Uma das muitas cartas a um MelhorAmigo

"Não consigo escrever nada. Por mais que tente, não me sai nada. Nada. Nada. Tenho tantas saudades tuas. O meu coração está vazio. Mentira! O meu coração está cheio! Cheio de vazio. Cheio de saudade. Cheio de tristeza. Tu cresceste. Eu cresci. Crescemos. Crescemos juntos. Lado a lado. Tu foste estando comigo. Sempre que eu precisei de ti, tu estiveste lá. Mas, agora não! Agora, preciso muito mais de ti e tu já não estás comigo. A "conversa" de que entrámos para a faculdade já não "cola". A minha mãe sempre me ensinou que se lutarmos e perseguirmos, aquilo que queremos, mais tarde ou mais cedo acabamos por alcançar tudo o que sonhámos. Parece que esta teoria não depende só de mim, nem de ti. Depende de um nós, que neste momento não existe. Outrora, existiu. Hoje, desapareceu. Onde está o meu Carlos? Onde estás? Tenho pesadelos à noite. Sonho que morres. Acordo, sosbressaltada a chorar. Tenho medo que aquilo que parecia ser tão real, num sonho, seja mesmo realidade. O medo instala-se. Eu só tenho medo. Permanece comigo toda a noite. O medo de te perder. O medo da sensação de te ter perdido. O medo de sentir que te perco a cada dia que passa... Conheces-me tão bem. Podia dizer que deves ser das pessoas que me conhece melhor, no mundo. Ou conheceste?! Já não sei nada. Mas sabes tão bem que, sempre que o medo entra no meu coração, tudo se torna medo. Queria tanto que voltasses. Queria que o meu cogumelo um dia voltasse. Sinceramente, não sei quem nos perdeu. Não sei. Não faço a menor ideia. Só tenho vontade de chorar. Será que já não sou tão importante para ti com um dia fui? Não entendo. Não consigo entender. É demais. Isto sufoca-me. Parece que para ti é tudo tão mais fácil. Tenho saudades daquele abraço que me davas, e do sorriso que largavas sempre que o meu coração ía a baixo. Da palavra amiga que nunca deixou de estar presente. Tenho saudades de te ligar mil vezes por dia para falar de tudo e muitas vezes de nada, mesmo sabendo que basta atravessar uma rua e meia para te ver. Tenho saudades de descer a rua e ir para a escola contigo. Chego mesmo a ter saudades da nossas discussões, de icarmos chateados e voltaros a fazer as pazes (ao menos, era sinal que a amizade estava bem ligada, já assim?) . Isto assim, não é nada ! O que me irrita é isto mesmo. É que isto é o NADA. E se calhar nem o nada chega a ser.

Naquela noite, senti mesmo que te estava a perder. Senti a noite inteira. Sonhei isso, depois de nos ter chateado por mensagens, uma sexta-feira. A minha vontade, neste momento, era ligar-te. Ficar a conversar contigo, sem nexo. Ler tudo o que o meu coração te escreveu. Queria que entendesses. Queria entender-te. Queria que nos entendessemos. Queria ter-te comigo, meu melhor amigo. Custa-me tanto esta separação. Viagem ... Quando é que esta viagem termina? Quando é que te posso voltar a ver? Hoje, pensei que nos podiamos encontrar amanhã de manhã, mas depois lembrei-me que qquase de certeza que estarás a dormir. Uma viagem sem principio e sim fim. Dizes-me a cantar: "É assim que eu sou, e eu não tenho mais nada para te dar". Já demos tudo? Não demos. Ainda, há tanto para dar? Não entendes? Não queres? És mais feliz agora? Diz-me! Não me deixes assim. Dói-me o coração. O coração está ferido. A ferida está aberta. É essa tua negação. Essa tua indiferença. Esse teu comportamento mata-me mais um bocadinho. Este nosso comportamento mata-me. Somos nós os culpados. Parece que não tenho força para fazer mais nada. Tenho vontade de te morder o coração. Vontade de to beliscar para ver se renasces. Qué feito de ti? O Carlos, O Cariluss de antigamente? Será possivel o tempo e a vida fazerem isto a dois seres? Será que a vida transforma assim tanto as pessoas? Como? Alguém me explica? As lágrimas correm ao som da música. E, cada vez que releio o que escrevi, mais vontade, tenho eu, de chorar. E choro sem problema ou com problema. O meu único problema é a nossa ausência, a nossa distância. Somos diferentes. Sabemos isso melhor do que ninguém. Mas será que não podemos arranjar um cantinho , "nenhum caminho é longo demais, quando um amigo nos acompanha", um caminho que agrade os dois. Será que não conseguimos arranjar uma hora por semana? Um momento em que sejamos nós..."